Todos se recordam daquele vídeo que vimos no 1º andar do CAM, durante a nossa visita, em que alguém rasgava de forma violenta aquelas folhas gigantes de papel branco produzindo um ruído agressivo que nos fazia estremecer?!
Essa senhora cuja arte se desenvolve em vários braços - como um polvo - chama-se Ana Hatherly e continua a oferecer-nos as suas dádivas como poeta, romancista, ensaísta e artista plástica.
Começo por vos deixar alguns dos seus pensamentos/reflexões que nos podem tocar pois temos em cada um o gosto e desejo de criar, ou não estaríamos naquele espaço físico comum todas as quintas-feiras rodeados de materiais e inspiração...
O Acto de Criar
Todos queremos ser amados, mas o artista quer sê-lo de uma maneira tão total, tão desalmada, que é impossível. Por isso cria. Mas o acto de criar tem muita lama: não é limpo, é mesmo um pouco sórdido, como nascer. O que oferecemos separa-se de nós. Como um segredo violado fica parecido com algo inefável ao ser tocado por uma impura mão.
Ana Hatherly, in 'Tisanas'
O Isolamento do Criador
Há uma sensação de infidelidade na comunicação. Essa verificação faz com que o criador esteja sempre insatisfeito, dominado pelo desejo de fazer cada vez melhor, porque há um fracasso imanente em toda a criação. Essa verificação pode levar a uma tentativa interminável ou ao isolamento pelo silêncio. Mas para o criador o isolamento é a sua oficina.
Ana Hatherly, in 'Tisanas'
Criatividade Cega
Entre o caos e a harmonia. A cegueira pensada é uma aflição mental, uma das formas do isolamento porque a invisibilidade não é obstáculo: é apenas um fenómeno subtilíssimo da ausência. Na criação tudo é potencialmente uma entidade distinta da matéria, uma improbabilidade, porque, como diziam os antigos, diante da luz somos todos cegos.
Ana Hatherly, in 'Tisanas'
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